Reportagem feita pela RTP
http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=180389&headline=20&visual=9
Nelson Gago in Jornal Região Sul
Como publicitário acredito que as marcas são, de facto, o maior activo das empresas. Para além de identificar e diferenciar, as marcas têm as funções de criar pertença e serem uma garantia para os consumidores. Ao adquirir uma determinada marca, independentemente do local de compra, existe a certeza de que esta oferece os benefícios a que estamos habituados.
Neste contexto, onde se enquadram as denominadas marcas brancas? Um estudo recente da AC Nielsen concluiu que as marcas brancas (ou próprias) crescem a uma taxa superior à do mercado. Em 2007, terão aumentado a sua quota em cerca de 4%, valor este, já superado em 2008.
A crise instalada tem levado os portugueses a optar pelo factor preço, em detrimento dos factores “garantia” e “pertença” oferecido pelas grandes marcas. Mas será que as marcas brancas, não oferecem garantias? Apesar do nome se manter, a ideia de que estes produtos são de menor qualidade “morreu” na década de 80. Actualmente os distribuidores apostam nas marcas próprias para se diferenciarem, aumentando a fidelidade dos consumidores e oferecendo um “good value for money” (boa relação qualidade/preço). Os produtos ganharam cor, identidade e uma qualidade muito acima da média.
Como conseguem então, os hipermercados, disponibilizar bons produtos a custos tão baixos? A resposta é simples. Redução dos custos publicitários, custo zero no linear das lojas, distribuição centralizada, entre outros. Resultado? Um bom produto, a um custo acessível.
Bens alimentares básicos como o esparguete, arroz, leite ou água podem ser adquiridos por vezes por um terço do preço das grandes marcas.
Então, se as marcas brancas estão identificadas e diferenciadas das outras e oferecem o mesmo tipo de garantias (ou a devolução do dinheiro) onde reside a grande diferença entre as marcas próprias e as marcas ditas “normais”? Basicamente, na satisfação do nosso “ego”. Os laços que criamos com as marcas é que ditam a nossa escolha. É esse o factor “x”. Por muito que um computador de marca própria seja bom, todos gostaríamos de ter um “Apple” ou um “Sony Vaio”. Por muito que a farinha do “Continente” seja boa, parece que os bolos só resultam com a “Banca de Neve”.
Deixo a decisão para cada consumidor mas acredito que, cada vez mais, o nosso ego seja esquecido em função dos euros na carteira.
Lucília Tiago in Jornal Notícias
O sector da distribuição em geral, e o da área alimentar em particular, viu a facturação crescer a dois dígitos em 2008 e espera resultados positivos este ano. Muito à conta dos produtos de marca própria que já pesam 33% das vendas.
Catorze mil milhões de euros ou o equivalente a 8,4% do PIB português. Foi este o valor que a distribuição facturou em 2008, segundo o "ranking" do sector ontem divulgado pela Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED). Por comparação com o ano anterior, há a registar um crescimento global de 12%. Mas se se tiverem em conta apenas as empresas da área alimentar (hipers e supermercados), os dados revelam subidas de vendas da ordem dos 21% (no caso do Modelo/Continente) ou 18% (Jerónimo Martins).
Uma parte significativa destas vendas incidiu sobre os produtos de marca própria (também conhecidos por "brancos"). Segundo os dados da TNS Worldpanel, no final do primeiro trimestre deste ano, os portugueses gastavam naquelas marcas 33 euros por cada 100 euros de compras. Dois anos antes, os produtos "brancos" pesavam 26,5 euros.
A procura de produtos de marca própria tem aumentado à medida que se intensifica a crise, evidenciando que as famílias portuguesas procuram manter o mesmo nível de consumo, mas direccionando-se para produtos mais em conta. O estudo da TNS Worldpanel mostra que a generalidade dos produtos de marca própria - congelados, lácteos, mercearias ou bebidas - tem aumentado o seu peso no cabaz de compras neste último ano. E há já várias categorias de "brancos" a "bater" os produtos de marca.
O caso das conservas de fruta será o mais expressivo, com as marcas da distribuição a absorver já 70% das vendas totais deste tipo de produtos. Nas batatas congeladas, a preferência pela marca branca atinge os 68,9% e nos guardanapos de papel chega aos 67,2%. Mais de metade das vendas de massas alimentícias, polpa de tomate, pratos prontos congelados ou salgados congelados são também já de marcas próprias.
Esta mudanças nos hábitos e preferências dos consumidores tem igualmente impacto nos resultados das várias cadeias de hipermercados e supermercados. Se se tiverem em conta os 904 milhões de euros de facturação do Minipreço, em 2008, e ainda que, neste grupo, 47% das vendas incidem sobre as marcas "Dia", constata-se que o Minipreço facturou 424,9 milhões de euros com os produtos "brancos".
No caso do Pingo Doce, que registou vendas de 2,66 mil milhões de euros, as marcas próprias representaram, no ano passado, uma facturação da ordem dos 1,2 mil milhões de euros.
Marcas próprias à parte, no geral, os resultados da facturação do sector surpreenderam pela positiva - tendo em conta que 2008 foi já ano de recessão económica - ainda que, como referiu o presidente da APED, a retracção nalguns hábitos de consumo (com os consumidores e reduzirem as idas a restaurantes) acabe por beneficiar o sector alimentar. Esta mesma tendência e o facto de o orçamento em compras de supermercado ser relativamente estável levam Luís Vicente Dias a estimar que o ramo alimentar continue a crescer em 2009, ainda que, provavelmente, a um ritmo mais modesto.